Nunca trabalhei numa empresa de comércio exterior que tenha crescido rapidamente.
Mas presenciei, na perspectiva de cliente, o rápido crescimento de algumas delas, especialmente Trading Companies e Agentes de Carga.
Junto disso, vieram as consequências que sofri como cliente e as impressões que passavam.
Por que algumas empresas do comércio exterior crescem rapidamente?
Não tenho dados, pesquisa, mas temos fofocas… Existem aquelas que crescem porque tomam atitudes bem condenáveis, mas vamos ignorá-las nessa conversa.
Por outro lado, o que diversas vezes testemunhei foram certas empresas que conseguiram novos clientes cujo volume de processos era absurdo.
E, curiosamente, não são poucas empresas cujos volumes são surreais e que sequer possuem uma pessoa de comércio exterior internamente.
Enfim, seja por mérito, porque o embarque teste foi um sucesso ou porque o cunhado de sei lá quem pediu uma chance.
De um dia para o outro aquela Trading Company / Agente de Carga / Comissária de Despachos com uma equipe de 5 pessoas conseguiu um cliente de 130 processos mês.
O famoso “é raro, mas acontece muito”.
Ok, 5 pessoas pode parecer exagero, mas mesmo empresas com 20 pessoas que, numa semana pega um cliente com 80, na seguinte 110 e na outra mais 80…
Ou seja, casos em que o volume de processos triplica em menos de um mês!
Algumas consequências que sofri como cliente
Enquanto isso, estou eu lá, humildão com meus 40 a 50 embarques ao mês, distribuídos entre 3 empresas, e começo a detectar que algo mudou.
Comercial não liga mais
Aquele serumaninho determinado em conseguir mais processinhos, que me perguntava pelo menos 2 vezes na semana como andava minha vida, o que eu contava de bom, fofocas do comércio exterior, e pedia feedback… Some mais rapidamente que um cliente devedor de demurrage.
Dependendo do quão puxa-saco era, dava graças que sumia, mas aí começam a vir problemas que me afetavam.
Atendimento
Os follow-ups paravam de vir às 07:30 da manhã, quando tentava ligar, a pessoa sempre estava em reunião ou treinamento e quando conseguia falar, a pessoa rapidamente puxava a conversa para aquele tom de “então tá, tchau”…
Não porque se sentia incomodada, mas porque estava sobrecarregada.
Retrabalhos
Só erra quem trabalha, mas quem está sobrecarregado erra muito mais.
Vai em vem de drafts, cotações, classificações de mercadoria.
O fluxo operacional que antes fluía dentro dos KPI, transbordava de pequenos problemas e atrasos que, além de custos, irritavam.
Malandragens
E na pressão por errar demais, começam as malandragens.
Dizer que o impossível é possível, que a instrução não seguida foi seguida, que as novas “taxinhas demonho” são devidas.
E não apenas para cobrir erros próprios.
Mas porque aconteceu alguma M gigante com o novo cliente gigante e agora todos os outros clientes vão precisar ‘’contribuir“, seja com taxas e impostos que não existem, demurrage mega comissionada ou na demora para devolver o dinheiro adiantado de numerário.
Segurança das informações
Conforme certas empresas crescem rapidamente, o responsável operacional por ela vai mudando rapidamente.
Ou seja, além do atendimento ficar pior ainda, presenciei diversas pessoas que foram contratadas às pressas que acabavam tendo acesso a informações sensíveis que constavam nas comunicações e documentos.
Para logo em seguida simplesmente deixarem a função e irem para outro departamento.
Ou emprego.
Eles se importaram de ter me perdido como cliente?
No último caso acima, em uma empresa empresa específica, uma importação marítima foi assumida por 4 pessoas diferentes.
Quem dera o atendimento fosse o único problema, fiquei bastante aborrecido e esbravejei bastante (admito que não tenho orgulho do Jonas Importador de antigamente) antes de deixar de trabalhar com eles definitivamente.
E ninguém veio atrás de mim como cliente tão cedo.
Eu era apenas o cliente que dava 10 processos mês a eles, quem era eu perto dos outros gigantes perante um crescimento tão rápido?
Não é sarcasmo, chegarei lá.
Consequências que percebi de fora
Depois que comecei a escrever no LinkedIn, tive o privilégio de conhecer mais de perto algumas pessoas que, assim como eu, queriam fazer diferente no comércio exterior.
Foram pessoas que saíram de empresas e abriram a suas, com quem sequer cheguei a trabalhar.
Era simplesmente um papo honesto diante da oportunidade de fazer a diferença.
Alguns fizeram, mas outros se perderam nesse crescimento rápido.
Comprometimento dos Valores
Tudo isso que mencionei, quando na empresa eram em 2, 3 ou 5 no máximo, os valores foram colocados à prova em momentos difíceis.
Nos momentos em que o fluxo de caixa pesa na hora de fazer a coisa certa.
Perda de pessoas importantes
Também é comum que esse entra (e sai) de tanta gente nova faça com que os valores sejam absorvidos por quem decidiu sacrificar mais que a resiliência para continuar na empresa.
E aquelas que se negam a isso preferem sair, e normalmente são as que testemunharam também o que aquela empresa de 4 pessoas se tornou.
O que as donas/donos se tornaram.
Sobe e desce
Em algum momento esse crescimento maluco para. Uma das alternativas pode ser porque conseguiu se estabilizar.
Mas pode acontecer de cair bastante antes de alcançar a estabilidade, seja porque o cliente gigante desistiu de você e decidiu levar seus processos para outra empresa (que também não tem 5 pessoas kkkkkkkkkkk) ou porque conseguiu se estabilizar.
Dá para julgar uma empresa de comércio exterior que teve a oportunidade de crescer rapidamente?
Como cliente fico bem pistola, mas como empresário, não consigo julgar.
É uma oportunidade de crescer em poucos meses o que era esperado acontecer em 2 anos.
E, colocando nas devidas proporções, a Invoice Content passou por momentos assim e aceitamos encarar porque não tínhamos noção do tamanho da bucha do trabalho que ia dar.
Em alguns casos demos conta, em outros não.
Alguns desses que não deram certo, espero um dia atender novamente e, alguns outros…bem…deixa quieto.
Mas e você, amiga(o)?
Já trabalhou em empresas que passaram por isso? Ou contratou empresas que cresceram rapidamente e seus processos ficaram de lado? Consegue julgar? Vale a pena encarar?